"Numa altura em que o desemprego atingiu um nível recorde na União Europeia, cerca de um quarto dos europeus que tinham, até agora, um nível de vida decente correm o risco de deslizar para a exclusão social. Um fenómeno que compromete as estratégias europeias de luta contra a pobreza.
As vítimas da crise são agora os sectores da sociedade que há apenas um lustro faziam parte da classe média, ou média-baixa - hoje são os novos pobres.
A tradicional imagem da pobreza ligada à mendicidade é agora associada à normalidade. "Os voluntários de antigamente são hoje os nossos beneficiários”, explica Jorge Nuño, secretário-geral da Cáritas Europa.
A tradicional imagem da pobreza ligada à mendicidade é agora associada à normalidade. "Os voluntários de antigamente são hoje os nossos beneficiários”, explica Jorge Nuño, secretário-geral da Cáritas Europa.
Os exemplos mostram as razões que estão a deixar cada vez mais cidadãos na pobreza: endividamento familiar, falência de Estados pródigos em subsídios ou a existência de trabalhos de má qualidade.
Aos três núcleos tradicionalmente mais expostos à pobreza – crianças e idosos, mulheres e imigrantes, ou seja, a idade, o género e a etnia, como factores de intensificação da pobreza – somou-se uma legião de cidadãos sem rótulo num contexto de corte de gastos sociais, o que amplia os efeitos da crise: são “pessoas com um trabalho muito precário, para quem é difícil chegar ao fim do mês e que, ainda para mais, não têm ajudas, pessoas entre os 30 e os 45 anos, com ou sem encargos familiares, e sem subsídios porque têm algum rendimento, que se vêem obrigadas a voltar para casa dos pais porque têm uma hipoteca para pagar”, afirma Joan Subirats, da Universidade Autónoma de Barcelona. “Os outros sectores estão mais vigiados, mas estas classes médias não estavam sob o foco”, acrescenta.
Apesar da maioria dos especialistas consultados prevenir para a tentação de fazer dos “novos pobres” as únicas vítimas da crise e sublinhar a deterioração de sectores previamente empobrecidos, é inegável que, depois de quase três lustros de vacas gordas e novos-ricos, a crise atingiu em cheio um segmento da população que, até 2007, tinha as suas necessidades básicas asseguradas.
O Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social, em 2010, passou despercebido. Concluía, assim, a Estratégia de Lisboa, que pretendia provocar “um efeito decisivo na erradicação da pobreza”, e arrancava a Estratégia 2020.
Mas a crise fez cair por terra os bons propósitos. O principal objectivo da Estratégia 2020 de reduzir em 20 milhões, nesta década, o número de pobres, ameaça tornar-se letra morta."
(adaptação de um texto de María Antonia Sánchez-Vallejo, publicado no jornal espanhol El País)
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