É costume dizer-se que os olhos são as janelas da alma, pois neles se reflectem os sentimentos que a alma gera ou de que é vítima, já que nela se repercutem as vicissitudes externas que a machucam ou a exaltam.
Os olhos brilham se a alma rejubila, parecem sair das órbitas e cuspir fogo quando ela se enfurece. Choram de alegria por fortes emoções empáticas, tornam-se lânguidos por lutos prolongados e sentidos. São límpidos na infância, turbulentos na adolescência, penetrantes na maturidade, mortiços na velhice. Mãos nos cegos.
Há olhos que vêem tudo escuro e sombrio, como se calçassem óculos escuros, sintoma de um pessimismo congénito ou ocasional, dependente de como se acorda de manhã. Há olhos que pintam tudo de verde, azul e amarelo de girassol, numa policromia serena que ameniza todas as agruras da vida. Há olhos míopes que, mesmo sãos e abertos de par em par, não vêem um palmo à frente do nariz e olhos como os de mãe a quem nada escapa. E há olhos que se podem olhar nos olhos, e olhos desfocados e baços de que nunca se consegue identificar a cor.
Há ainda olhos fulminantes que, com um olhar, censuram, repreendem, humilham, julgam, condenam. E há outros brandos e mansos que, com um olhar bem diferente, convidam, atraem, afagam, desarmam, conquistam.
Há também olhos matreiros que não param nunca e em nada, num movimento insaciável de captação de imagens e detalhes que vão arquivando para desbobinar em qualquer altura. E há olhos que piscam com desejo de conquista implícita.
Há olhos para todos. O poeta tem olhos que “vêem as coisas como os outros as vêem também, mas sente-as lá por dentro como as não sente ninguém”. O médico tem olhos que curam; o arquitecto, olhos estéticos; o padre, olhos beatos; o motorista, olhos atentos; o chinês, olhos de amêndoa; o fotógrafo, olhos de lince; o pedinte, olhos suplicantes; a mãe, olhos de ternura; e Deus, olhos grandes, da dimensão do mundo, que nos vêem, nos seguem e nos adoram como a menina dos seus olhos, e que não castigam quem, mentindo sorrateiramente, arrisca perder o que têm de melhor com juramento falso e sacrílego, atrevendo-se a dizer: “Eu seja cego se…”.
Bem basta os que, por desventura, são cegos de verdade. Mas os olhos são os olhos! E a ciência e a técnica são tão generosas e tornaram-se tão capazes que até já restituem a vista por transplante e fazem ver os cegos com olhos de outros que lhos deixam em testamento nesta vida, pois não precisam deles na outra.
Olhemo-nos nos olhos à procura de quem precisa do nosso olhar, tornando assim a nossa missão nesta vida verdadeiramente simpática.
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Os olhos brilham se a alma rejubila, parecem sair das órbitas e cuspir fogo quando ela se enfurece. Choram de alegria por fortes emoções empáticas, tornam-se lânguidos por lutos prolongados e sentidos. São límpidos na infância, turbulentos na adolescência, penetrantes na maturidade, mortiços na velhice. Mãos nos cegos.
Há olhos que vêem tudo escuro e sombrio, como se calçassem óculos escuros, sintoma de um pessimismo congénito ou ocasional, dependente de como se acorda de manhã. Há olhos que pintam tudo de verde, azul e amarelo de girassol, numa policromia serena que ameniza todas as agruras da vida. Há olhos míopes que, mesmo sãos e abertos de par em par, não vêem um palmo à frente do nariz e olhos como os de mãe a quem nada escapa. E há olhos que se podem olhar nos olhos, e olhos desfocados e baços de que nunca se consegue identificar a cor.
Há ainda olhos fulminantes que, com um olhar, censuram, repreendem, humilham, julgam, condenam. E há outros brandos e mansos que, com um olhar bem diferente, convidam, atraem, afagam, desarmam, conquistam.
Há também olhos matreiros que não param nunca e em nada, num movimento insaciável de captação de imagens e detalhes que vão arquivando para desbobinar em qualquer altura. E há olhos que piscam com desejo de conquista implícita.
Há olhos para todos. O poeta tem olhos que “vêem as coisas como os outros as vêem também, mas sente-as lá por dentro como as não sente ninguém”. O médico tem olhos que curam; o arquitecto, olhos estéticos; o padre, olhos beatos; o motorista, olhos atentos; o chinês, olhos de amêndoa; o fotógrafo, olhos de lince; o pedinte, olhos suplicantes; a mãe, olhos de ternura; e Deus, olhos grandes, da dimensão do mundo, que nos vêem, nos seguem e nos adoram como a menina dos seus olhos, e que não castigam quem, mentindo sorrateiramente, arrisca perder o que têm de melhor com juramento falso e sacrílego, atrevendo-se a dizer: “Eu seja cego se…”.
Bem basta os que, por desventura, são cegos de verdade. Mas os olhos são os olhos! E a ciência e a técnica são tão generosas e tornaram-se tão capazes que até já restituem a vista por transplante e fazem ver os cegos com olhos de outros que lhos deixam em testamento nesta vida, pois não precisam deles na outra.
Olhemo-nos nos olhos à procura de quem precisa do nosso olhar, tornando assim a nossa missão nesta vida verdadeiramente simpática.
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(Adaptação do artigo Olhos Para Todos, de Norberto Louro)
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