No final do ano é costume aparecerem um conjunto de relatórios de grandes instituições internacionais acerca da situação mundial das crianças, da pobreza, da população… Todos eles têm em comum o facto de nos alertar para o alargamento constante do fosso entre ricos e pobres. Tudo se passa como um triste ritual. Como se fosse necessário, em vésperas de festas natalícias, pôr um pouco de amargura, quanto baste, para condimentar um período particular, marcado, nos países ricos, pelo consumismo. Nada de mal nisso, se o ritual contribuísse para tornar mais tolerável o que na realidade é inaceitável. Este é, de facto, um fenómeno perverso que resulta também da grande mediatização que hoje vivemos a propósito das catástrofes, do crime, das injustiças sociais, da pobreza, da fome. Dir-se-ia que o sentimento do escândalo só nos afecta a primeira vez. Lentamente, esse sentimento é domesticado, até se transformar numa normalidade do mundo anormal. O mundo tornou-se de tal forma complexo, que nos ...