Os jornais são seres altamente sensíveis ao Verão. Sofrem de uma espécie de alergia à época balnear. De um modo geral, as pessoas regozijam-se com estes belos dias de céu limpo e sol quente. Já o mesmo não se passa com os jornais. Preferem os dias de céu plúmbeo e sol murcho. Simplesmente porque é quando tudo acontece. É quando as instituições até funcionam, o País trabalha e a chuva vai caindo na mesma proporção em que chovem notícias nas redações. Chega o Verão e pronto: não há notícias. Conscientes da escassez de matéria-prima, os jornais mergulham então numa terrível angústia para serem logo atacados por uma maleita cientificamente identificada como S.A.N. (Síndroma de Ausência de Notícias). Mas a S.A.N. pode ainda ser acompanhada por uma estranha torrente de achaques. À base de tremuras nos dedos - resultante da esponjiformidade dos músculos das mãos - estas macacoas são os primeiros sintomas de uma outra doença. É a chamada F.P.B., ou Fobia das Páginas em Branco. Na maior parte das situações, a F.P.B. acaba, no entanto, por ser controlada com a ajuda de um mecanismo psicossomático de autodefesa - mas de carácter esquizoide - descambando depois naquilo a que os psiquiatras se referem como D.E.C., ou a Doença de Encher Chouriços.
(texto de Francisco Camacho, in Vida/O Independente)
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