No final do ano é costume aparecerem um conjunto de relatórios de grandes instituições internacionais acerca da situação mundial das crianças, da pobreza, da população… Todos eles têm em comum o facto de nos alertar para o alargamento constante do fosso entre ricos e pobres. Tudo se passa como um triste ritual. Como se fosse necessário, em vésperas de festas natalícias, pôr um pouco de amargura, quanto baste, para condimentar um período particular, marcado, nos países ricos, pelo consumismo. Nada de mal nisso, se o ritual contribuísse para tornar mais tolerável o que na realidade é inaceitável. Este é, de facto, um fenómeno perverso que resulta também da grande mediatização que hoje vivemos a propósito das catástrofes, do crime, das injustiças sociais, da pobreza, da fome. Dir-se-ia que o sentimento do escândalo só nos afecta a primeira vez. Lentamente, esse sentimento é domesticado, até se transformar numa normalidade do mundo anormal.
O mundo tornou-se de tal forma complexo, que nos sentimos completamente impotentes para responder aos desafios que se nos colocam no mundo contemporâneo.
A questão que se coloca é a de se saber o que poderemos fazer, nós os mais comuns dos cidadãos, para contrariar este estado de coisas. Aparentemente, nada ou pouco.
Deveríamos, talvez, numa altura de crise económica, como a que atravessamos, começar a olhar para a pobreza dos que nos rodeiam sem o ferrete da nossa crítica acomodada. Quando fazemos notar a dificuldade dos mais pobres em fazerem o seu planeamento familiar, em gerir os seus parcos recursos, e em se formarem e educarem os seus, esquecemo-nos que isso faz parte da sua pobreza. E, sem nos apercebermos, estamos a criar desculpas para a nossa desresponsabilização. Entre esta atitude e a que adoptam os governantes dos países ricos, ao identificarem a incompetência, a corrupção, o tribalismo e o autoritarismo dos países africanos como responsáveis pela sua pobreza, existe apenas uma questão de escala.
Mas arranjar desculpas para a pobreza dos outros é um soporífero para dormirmos descansados.
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(adaptação do texto “É necessário mudar o olhar sobre a pobreza” de Carlos Camponez)
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Subscrevo inteiramente.
ResponderEliminarBom Ano Novo